Na "pequena Síria" da Turquia, a esperança permanece entre refugiados, apesar de todas as probabilidades

2019-11-25 14:02:21丨portuguese.xinhuanet.com

Por Burak Akinci e Wang Feng

Gaziantepe, Turquia, 23 nov (Xinhua) - Gaziantepe, na Turquia, é uma cidade industrial de tamanho médio no sul que recebeu quase meio milhão de refugiados sírios que, com o apoio substancial da Sociedade do Crescente Vermelho Turco, ou Kizilay, continuam esperançosos para o futuro deles apesar de todas as probabilidades.

Devido ao tamanho da comunidade imigrante que cresceu exponencialmente desde o início da guerra na Síria, oito anos atrás, alguns distritos de Gaziantepe, localizados na fronteira da Turquia com a Síria, foram apelidados de "pequena Síria".

Segundo dados oficiais, 452.000 sírios vivem em Gaziantepe e constituem incríveis 22 por cento de sua população, a tornando um modelo de tolerância para com os recém-chegados.

"O principal desafio dos sírios é a barreira do idioma. Eles falam árabe. O idioma é realmente o primeiro desafio à adaptação à sociedade turca local", disse Hayriye Tirnova, assistente social da sede local de Kizilay.

Kizilay oferece cursos de língua turca, assistência médica e escolar, além de apoio psicológico e social para os sírios deslocados como parte de um programa multifacetado, observou ela.

Kizilay também faz esforços para integrar os sírios na força de trabalho local, ensinando a eles artesanato, acrescentou Tirnova.

Gaziantepe é conhecida por sua culinária diferenciada. É também uma cidade têxtil, localizada a apenas 100km ao norte de Aleppo, a cidade síria devastada pela guerra.

A maioria dos refugiados sírios na Turquia vive em cidades como Gaziantepe, onde a semelhança de culturas a torna mais acolhedora para os migrantes, ao contrário das metrópoles no oeste, onde o sentimento anti-refugiados é exorbitante em meio às dificuldades econômicas da Turquia.

"Foi muito difícil quando cheguei aqui, um ano atrás. Tivemos que morar em uma casa apertada com mais de 25 outras pessoas da Síria", disse à Xinhua, Reyan Saber, uma menina síria de 16 anos, com um sorriso no rosto.

A aluna do ensino médio disse que, graças a Kizilay, ela conseguiu voltar para a escola após um ano sabático.

Ela encontrou consolo na pintura, uma forma de arte através da qual expressa seus sentimentos interiores e mantém uma visão positiva da vida em um país estrangeiro.

Como voluntária de Kizilay na cidade, Reyan mantém sua esperança de um futuro melhor na Turquia, longe da guerra que ainda está acontecendo em partes de sua terra natal, que tragicamente levou sua mãe e dois irmãos.

Muhammed Saber, seu pai, teve que amputar uma das pernas depois de ser ferido por um projétil.

"Encontrei... uma vida totalmente nova na Turquia. Sou grato pelo apoio e assistência que nos foram entregues", disse Muhammed, pedindo às instituições internacionais que se esforcem mais pelas pessoas desse tipo na Turquia.

O homem é um beneficiário do cartão de débito emitido pela Kizilay como parte de um esquema local e internacional. O cartão foi distribuído para cerca de 2 milhões de refugiados, que podem retirar mensalmente uma pequena quantia em dinheiro para ajuda.

Salih Elallavi, o patriarca de uma família de 18 membros, disse que 17 deles receberam este precioso cartão, que oferece 2.040 liras (356 dólares americanos) por mês, uma quantia que está longe de ser suficiente para todas as suas necessidades essenciais, mas capaz de mantê-los adiante.

Muhammed Saber e Elallavi insistiram que não queriam deixar a Turquia, citando preocupações com seus filhos.

"Não quero arriscar o futuro deles. Gostaria que eles se formassem e depois trabalhassem aqui", disse Saber.

Um número surpreendente de sírios fugiu de seu país para países vizinhos, principalmente para a Turquia, que demonstrou extraordinária hospitalidade com os refugiados.

No entanto, o clima mudou com as preocupações políticas e econômicas.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, prometeu enviar milhões de sírios de volta voluntariamente.

Os planos de repatriamento de Erdogan foram recebidos com críticas nacionais e internacionais.

Especialistas argumentaram que um empreendimento tão massivo não seria realista, exortando a Turquia a se concentrar mais na integração, pois as pesquisas concluíram que a maioria dos sírios está aqui para ficar permanentemente.

A maioria dos sírios na Turquia veio de Alepo e dos arredores, assim como Elallavi, que não gosta de ser reassentado com sua família em uma região desconhecida para ele.

"A região, onde a zona de segurança deve ser criada, faz parte do nosso país, mas ainda não é nossa terra natal, tornando impossível a nossa volta", afirmou o sírio.

(O repórter da Xinhu, Umut Ozlu, em Ancara também contribuiu para a matéria.)

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