Resumo: Lula agradece apoio de seguidores e diz que o objetivo de sua prisão era "matar uma ideia"

2019-11-09 18:05:56丨portuguese.xinhuanet.com

Rio de Janeiro, 8 nov (Xinhua) -- O ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) agradeceu nesta sexta-feira o apoio que recebeu de seus seguidores durante os 580 dias na prisão e, em discurso, criticou o governo, a Polícia Federal e o Ministério Público, aos quais acusou de quererem 'matar uma ideia' com seu confinamento.

Em um discurso de 16 minutos após deixar a sala da Polícia Federal de Curitiba, onde estava preso desde abril de 2018, Lula afirmou às centenas de pessoas que o esperavam que elas eram "o alimento da democracia que eu precisava para resistir à safadeza e à canalhice que o lado podre do Estado brasileiro fez comigo e com a sociedade brasileira".

"Vocês não têm dimensão do significado de eu estar aqui junto com vocês. Eu, que a vida inteira estive conversando com o povo brasileiro, eu não pensei que no dia de hoje eu poderia estar aqui conversando com homens e mulheres que, durante 580 dias, gritaram 'bom dia Lula', 'boa tarde, Lula', 'boa noite, Lula'. Não importa que estivesse chovendo, que estivesse 40 ou zero grau," disse o ex-presidente.

"Quero que vocês saibam que, além de continuar lutando para melhorar a vida do povo brasileiro - que está uma desgraça - além de lutar para não permitir que esses caras entreguem o país, eu quero dizer em alto e bom som que o lado mentiroso da PF fez um inquérito contra mim. O lado mentiroso e canalha do Ministério Público e o [Sergio] Moro e mais o TRF-4, eles têm que saber: eles não prenderam um homem, eles tentaram matar uma ideia, e uma ideia não se mata. Uma ideia não desaparece", acrescentou.

Lula criticou "o lado podre da Polícia Federal, o lado podre do Ministério Público, da Receita Federal, que trabalham e trabalharam para tentar criminalizar a esquerda, o PT, e o Lula".

"Eles têm que saber que caráter e dignidade não é coisa que a gente compra em shopping, não se compra em feira, nem no bar. Adquiri tudo que tenho da vida de uma mulher que nasceu analfabeta, que me ensinou a ter dignidade e morreu analfabeta. E é a dona Lindú", disse em uma alusão a sua mãe.

"Saio daqui sem ódio. Aos 74 anos, meu coração só tem espaço para o amor porque o amor é que vencerá neste país. Eu não tenho mágoa dos policiais federais, eu não tenho mágoa dos carcereiros, eu não tenho mágoa de ninguém", assegurou.

Para Lula, desde a saída do PT do poder, em 2016, "o Brasil não melhorou, o Brasil piorou, o povo está desempregado". Ele afimou: "Tenho vontade de provar que esse país pode ser muito melhor se ele tiver um presidente que não minta tanto no Twitter quanto o Bolsonaro".

Lula conseguiu a liberdade depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu na véspera, por 6 votos a 5, que nenhum condenado em segunda instância (como é o caso do ex-presidente) pode ser preso até que sejam esgotados todos os recursos judiciais possíveis.

Na manhã desta sexta-feira, o advogado de Lula, Cristiano Zanin, entrou com um pedido na Justiça Federal para libertar o ex-presidente, aceito horas depois pelo juiz Danilo Pereira Junior, da 12ª Vara Criminal Federal de Curitiba.

Lula foi condenado em primeira instância em julho de 2017 pelo então juiz federal e atual ministro da Justiça, Sergio Moro, a nove anos e seis meses de prisão, acusado de ter recebido um apartamento da construtora OAS no litoral de São Paulo, em troca de favorecê-la.

Em janeiro de 2018, foi condenado em segunda instância por um tribunal de apelações que aumentou a pena para 12 anos e um mês de prisão e, depois de ter vários recursos e pedidos de habeas corpus negados, começou a cumprir a condenação em uma sala da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, a partir de 7 de abril de 2018.

Em abril deste ano, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) reduziu a pena para oito anos, 10 meses e 20 dias.

No final de setembro, Lula completou um sexto da pena e, devido ao bom comportamento, o Ministério Público Federal pediu sua passagem para o regime semiaberto, mas o ex-presidente afirmou que não aceitava a decisão e que só sairia da prisão quando sua inocência fosse declarada.

Durante os 580 dias de prisão, Lula só deixou a cadeia em duas ocasiões: para ir a um interrogatório perante o juiz em outro caso em que é acusado, em novembro do ano passado, e para comparecer ao enterro do seu neto de 7 anos, falecido em março deste ano.

Depois do discurso e de passar mais de uma hora sendo abraçado por seus simpatizantes, Lula seguiu para um hotel de Curitiba onde passou a noite. Ele viajará neste sábado pela manha para São Bernardo, na Grande São Paulo, onde participará de uma reunião no Sindicato dos Metalúrgicos e fará um novo discurso.

A libertação do ex-presidente foi comemorada em todo o país. Em São Paulo, motoristas gritaram "Lula Livre!" e soaram as buzinas na Avenida Paulista, uma das principais da cidade. No Rio de Janeiro, bares que costumam reunir dezenas de pessoas, a maioria jovens, para rodas de samba nesta sexta-feira, entoaram "Olê, Olê, Olê, Olá, Lula, Lula!" até a madrugada.

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