"Cultura do Tênis" assume papel transcultural entre os EUA e a China

Por Julia Pierrepont III e Huang Heng

Los Angeles, 1º abr (Xinhua) -- Chineses e americanos compartilham muitos interesses interculturais, como filmes, música, moda, e agora uma das tendências mais populares em ambos os continentes são os tênis.

Mas não qualquer tênis: edição limitada, itens de colecionadores vintage, como Air Jordan, Nike Air Max, Adidas Yeezy Boost, Revenge X Storm, Fear of God Military, e muito mais.

"Pode parecer loucura, mas nos vemos como embaixadores culturais criando pontes entre os EUA e a China", disse Jiahuan Xia, sócio e co-fundador da SoleStage, uma das principais revendedoras de tênis de edição limitada, à Xinhua. "Nada se comunica melhor entre culturas do que uma paixão compartilhada”.

"Quando você coleciona tênis legais, não importa se você é americano ou chinês ou de qualquer outro lugar do mundo", acrescentou um de seus parceiros co-fundadores, Yu Zhang.

Especialista em intuir as ligações entre moda e o senso de identidade, Xia explicou: "Todos nós amamos basquete e rap, então os tênis se tornam uma linguagem comum para jovens como nós. Quando vejo os seus tênis, posso dizer apenas olhando para eles do que eles gostam e que tipo de pessoa eles são".

Liderados por rappers, pro-ballers e jovens celebridades de Hollywood cuja fama lhes dá aquele cobiçado "cool factor", os tênis de edição limitada tornaram-se adultos e são o topo da moda tanto na China quanto nos Estados Unidos.

Essa popularidade deu origem a uma enorme indústria de calçados esportivos que superou os 60 bilhões de dólares americanos em todo o mundo em 2018 e deve subir para 95 bilhões de dólares americanos até 2025, de acordo com Zhang, de 29 anos.

Quantidades limitadas de qualquer mercadoria popular naturalmente geram uma competição feroz entre compradores ansiosos para possuí-la. De acordo com a Forbes, isso alimentou um mercado secundário de revenda de um bilhão de dólares, no qual um modelo raro comprado por apenas 190 dólares americanos pode subir de um dia para o outro para 6.000 dólares americanos por par.

Uma cadeia de lojas de consignação de propriedade chinesa, SoleStage está montando essa onda.

A SoleStage foi fundada em 2013 por Lei Wang, Zhang, e a mais jovem, Xia, três jovens chineses que partilhavam uma paixão por sapatos esportivos. Na tenra idade de 13 a 15 anos, todos eles começaram, separadamente, como colecionadores, mas ficaram entusiasmados com o zelo empreendedor quando perceberam como eram rentáveis as oportunidades de revenda.

"Decidimos entrar no negócio juntos quando percebemos que separadamente estávamos apenas aumentando os preços uns dos outros, mas se trabalhássemos juntos, poderíamos combinar nossa experiência e conexões e obter ótimos produtos a preços melhores", explicou Zhang.

"Foi difícil no início, porque alguns compradores tinham medo de que, por sermos chineses, pudéssemos estar vendendo falsificações. Então, tivemos que trabalhar muito para construir nossa reputação de honestidade e acesso a produtos raros e autênticos", revelou Zhang.

E esse trabalho árduo valeu a pena.

Até agora, o trio abriu três lojas na Califórnia - Los Angeles, Irvine e Santa Clara - e uma na cidade de Nova York, que atendem a consumidores americanos - principalmente jovens, homens de modernos - atendidos a partir de um enorme armazém na Cidade da Indústria, uma cidade do subúrbio localizada 20 quilômetros a leste do centro de Los Angeles, local cheio de produtos que garantem que eles possam acompanhar a crescente demanda.

E estão abrindo uma quinta loja em Beijing, em maio, para melhor atender ao mercado chinês.

"O que diferencia esta loja é que ela tem algo para todos os seus clientes, não apenas uma marca de roupas hip-hop", disse Angel Cornejo, gerente hispano-americano da loja de Los Angeles, à Xinhua. "Chegamos a um público maior. E temos ótimos contatos, então podemos oferecer coisas raras".

"Esse é o ponto principal", concordou Xia. "Com nossas conexões, podemos trazer a moda e os tênis americanos autênticos para a China e trazer marcas chinesas para os EUA.

Xia veste um colete esportivo com o logotipo da Li Ning, uma marca chinesa de roupas esportivas que estreou sua coleção outono/inverno 2019 na New York Fashion Week (NYFW) no mês passado. Xia disse que SoleStage se juntou aos trabalhos de promoção.

Até 2018, esses três jovens construíram um negócio de revenda bem-sucedido, e eles esperam um crescimento substancial no próximo ano quando lançarem seu novo aplicativo de compra de calçados, "Shine", que fornecerá comparações de preços precisas e atualizadas e oportunidades de vendas tanto nos Estados Unidos quanto na China.

"Sabemos que ambos os lados, ambos os países, é essa a nossa vantagem. Somos uma marca americana que entende o mercado dos EUA, mas também somos chineses, e conhecemos a China melhor do que qualquer um de nossos concorrentes jamais poderia", afirmou Xia.

E seus clientes concordam.

"A moda deve ser sobre se expressar e ser única. E esses caras sabem disso," disse um jovem comprador americano na loja SoleStage de Los Angeles, ao lado da Supreme, no badalado distrito de West Hollywood Fairfax.

A Supreme é uma marca americana de loja de skate e roupas, estabelecida em Nova York em abril de 1994. A marca, que atende ao hip hop, às culturas do rock e à cultura jovem em geral, é muito popular tanto nos Estados Unidos quanto na China.

O popular artista de R&B e hip hop, Joseph DeVinci, de Atlanta, disse à Xinhua: "Estive aqui umas 50 vezes. Acho a coisa mais louca e a compro. Eu comprei [Kobe] Bricks ontem. Comprei dois pares de Yeezy's na semana passada. Eu não sou colecionador, só gosto de sapatos".

O gerente da loja, Angel, concordou. "Todos nós adoramos sapatos. Quando você gosta de alguma coisa, você quer saber tudo sobre ela: a história, as cores, os modelos, os materiais...".

Ele também adora seu trabalho e está feliz que seus chefes chineses tenham se estabelecido em Los Angeles. "Adoro trabalhar para esses caras, eles são meus chefes, mas também são meus amigos. Nós saímos e falamos muito sobre sapatos".

Outro cliente regular americano, Tatum, disse: "É uma loucura que três jovens chineses tenham se metido nisso de uma maneira tão grande por aqui. Isso é legal.