Incerteza aumenta após Parlamento Britânico rejeitar acordo Brexit

2019-01-17 10:27:18丨portuguese.xinhuanet.com

Londres, 15 jan (Xinhua) -- A primeira-ministra britânica, Theresa May, sofreu a pior derrota em quase um século no Parlamento Britânico na terça-feira, quando os Membros do Parlamento (MPs) rejeitaram o acordo que ela negociou para deixar a União Europeia (UE).

Líderes de partidos conservadores se prepararam para uma derrota, mas o voto de 432 a 202 com uma larga margem de 230 mostrou que May ainda tem uma montanha para escalar. Cerca de 118 deputados conservadores votaram contra May.

A derrota criou incerteza crescente sobre a política e a economia do país e até do mundo em geral.

DERROTA HISTÓRICA

Minutos depois de o presidente John Bercow anunciar o resultado, May disse aos parlamentares que o governo abriria caminho para um debate na quarta-feira para decidir se o parlamento ainda tinha confiança em seu governo.

O principal líder do partido trabalhista, Jeremy Corbyn, apresentou uma moção de desconfiança, com um debate marcado para quarta-feira para decidir se o governo de May cairá.

"Esta é uma crise política, uma crise parlamentar, uma crise popular, uma crise de governo, talvez, e uma crise do Reino Unido como entidade política", disse Anthony Glees, especialista político da Universidade de Buckingham, à Xinhua.

A maioria dos políticos esperava que May perdesse, mas por uma margem muito menor.

O grande obstáculo para muitos era o risco de o Reino Unido estar permanentemente ligado à UE devido a uma exigência de Bruxelas de que um acordo deveria que ser posto em prática para impedir uma fronteira terrestre da UE entre a Irlanda e a Irlanda do Norte controlada pelos britânicos.

Apesar de garantias dadas por Bruxelas de que não pretendia introduzir o recuo, os políticos britânicos, especialmente os da Irlanda do Norte, exigiam uma garantia legalmente executável de que isso nunca aconteceria.

A UE recusou-se a ceder na questão, oferecendo apenas palavras, mas não a garantia juridicamente irrefutável.

"Cada dia que passa sem que esse problema seja resolvido, significa mais incerteza, mais amargura e mais rancor", disse May, reagindo à enorme perda do governo.

VOTO DE CONFIANÇA

Se May perder o voto de confiança na quarta-feira, isso poderá levar a Rainha Elizabeth a dissolver o parlamento e a convocar eleições gerais imediatas.

Isso iniciaria o cronograma do Brexit, com o Reino Unido encerrando sua adesão à UE em 29 de março, no caos. Também poderia levar Corbyn a receber as chaves da 10 Downing Street como primeiro-ministro do Partido Trabalhista.

Se ela sobreviver, é esperado que May mantenha negociações com outros partidos políticos para determinar se um acordo alternativo do Brexit pode ser alcançado. Ela também iria discutir a crise com autoridades da UE em Bruxelas.

O resultado do voto de confiança determinará as próximas medidas, seja uma eleição geral ou May tentando um acordo que poderia ganhar no parlamento britânico, ou ainda May renunciando ou sendo destituída como primeira-ministra.

Se May sobreviver ao voto de confiança, ela retornará à Câmara dos Comuns na segunda-feira com seu plano B.

Especialistas tinham dúvidas sobre o futuro de May e não estavam otimistas quanto a um acordo alternativo para o Brexit.

Glees acredita que a votação tornaria mais provável o adiamento da contagem regressiva do artigo 50, além de um segundo referendo sobre a adesão à UE uma possibilidade mais forte.

"A UE pode melhorar o acordo para que possamos votar em breve. É difícil ver qualquer outra proposta que obtenha maioria na Câmara dos Comuns. Se não houver uma melhor oferta da UE, o resultado provável é um não acordo. Isso parece mais provável", previu Patrick Minford, assessor da primeira-ministra conservadora Margaret Thatcher e macroeconomista da Cardiff Business School.

CRESCENTE INCERTEZA

A economia global respondeu imediatamente à crescente incerteza resultante da rejeição do acordo Brexit.

As ações de Tóquio abriram em baixa nesta quarta-feira, com os investidores optando por garantir os lucros obtidos com os ganhos recentes, em meio à incerteza em torno do acordo Brexit.

A libra esterlina caiu mais de 1% em relação ao dólar imediatamente após a rejeição do acordo na terça-feira e reduziu algumas das perdas mais tarde, com os investidores prevendo a possibilidade de um Brexit rígido.

No entanto, muitos analistas ainda acreditam que a rejeição do acordo significaria mais incertezas, o que levará à volatilidade da moeda.

A comunidade empresarial britânica reagiu com desânimo ao voto, temendo que isso pudesse levar o Reino Unido a deixar a UE sem acordo.

Mike Cherry, da Federação de Pequenas Empresas, disse que muitos de seus membros lutariam para sobreviver se o impasse no parlamento levasse o país a deixar a UE.

Carolyn Fairbairn, diretora geral da Confederação da Indústria Britânica, disse que "todos os negócios perceberam que um não acordo está se aproximando. Um novo plano é necessário imediatamente".

A UE também tem monitorado cuidadosamente o que acontecerá em Londres.

Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, acredita que o acordo rejeitado é um acordo justo e o melhor possível, alertando que "o tempo está acabando" e pedindo ao Reino Unido que "esclareça suas intenções o mais rápido possível".

Cada estado-membro da UE continuará os preparativos para a pior variante do Brexit, disse o ministro romeno de Assuntos Europeus, George Ciamba, à mídia local na terça-feira após a rejeição.

"A Romênia, como o país que detém a presidência do Conselho da UE, está fazendo um apelo e deseja continuar a expressar a união dos 27 membros", disse ele, acrescentando que "neste momento precisamos ver o que acontecerá amanhã, é sobre o movimento de não confiança".

Apesar de demonstrar respeito pelo resultado da votação, o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, disse na noite de terça-feira que a rejeição do parlamento britânico ao acordo Brexit não significa uma situação de não negociação e que "o próximo passo depende do Reino Unido".

O resultado da votação faz com que May volte a Bruxelas e renegocie um novo acordo, disse Boris Johnson, ex-secretário de Relações Exteriores do Reino Unido e ex-prefeito de Londres.

Alan Wager, pesquisador associado do Reino Unido em uma Europa em Mudança no King's College de Londres, disse à Xinhua após a votação que um não-acordo Brexit, que terá consequências catastróficas, se tornou mais provável após a votação.

"É quase certo que o acordo que ela passou os últimos dois anos e meio negociando agora está morto", disse ele.

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