Nova instalação de arte ilustra estatísticas sombrias da violência armada dos EUA
A exposição Armas a Jardins exibe armas de fogo descartadas convertidas em ferramentas de jardinagem em Albuquerque, nos Estados Unidos, em 19 de outubro de 2018. A reforma da lei de armas é uma questão altamente controversa nos Estados Unidos. Uma nova instalação de arte no Museu Maxwell de Antropologia no Novo México procura explorar a questão, não da maneira legislativa ou política usual, mas através de uma lente antropológica. (Xinhua/Richard Lakin)
Por Richard Lakin
Albuquerque, Estados Unidos, 20 out (Xinhua) -- A reforma da lei de armas é uma questão altamente controversa nos Estados Unidos. Uma nova instalação de arte no Museu Maxwell de Antropologia no Novo México procura explorar a questão, não da maneira legislativa ou política usual, mas através de uma lente antropológica.
A exposição analisa a violência armada global e como uma perspectiva internacional pode influenciar as políticas de armas dos EUA.
David Phillips, co-curador de "Violência Armada: Uma Breve História Cultural" no museu, disse à Xinhua que a cultura é uma maneira valiosa de analisar qualquer problema, incluindo a violência armada.
"Muitas vezes, algo que parece uma parte fixa de uma determinada sociedade ou problema insolúvel dentro de uma sociedade, se você olhar para as outras sociedades ao redor do mundo, eles resolveram esse problema", disse ele.
A peça central da exposição é uma obra de arte da artista americana Ann Lewis, intitulada "This is Who We Are". Devorah Romanek, curadora e designer de exposições do Museu Maxwell, explicou que esta peça é uma representação de quantas crianças são mortas a cada dia nos Estados Unidos através da violência armada. A figura surpreendente é 8,8. Assim, o artista levou oito conjuntos de calçados infantis de porcelana pendurados em linha para expressar as estatísticas.
"Isso realmente torna muito mais humano e uma maneira de entender que isso não é apenas uma estatística, mas uma realidade que tantas crianças são mortas a cada dia nos Estados Unidos com uma arma", disse ela.
Segundo Romanek, a cultura de armas no Novo México, um estado do sul dos Estados Unidos com fronteira com o México, nasce das lendas do Velho Oeste que foram criadas em romances e filmes.
"Há esse romantismo de ser um aventureiro no Ocidente, a imagem de caubóis com armas. Esse mito do caubói como um herói toma conta e, subsequentemente, você vê isso em muita cultura popular e certamente no cinema", disse ela, acrescentando que a proliferação desses mitos foi usada na propaganda para vender armas.
Embora a cultura das armas seja popular no estado sulista, existem organizações que são fortemente contra a violência armada.
Participando da exposição, a organização Novos Mexicanos para Prevenir a Violência Armada exibe ferramentas de jardinagem que foram criadas a partir de armas descartadas.
Miranda Viscoli, co-presidente da organização, disse que sua organização vem fazendo um programa chamado "Guns to Gardens" (De Armas a Jardins, em português), onde fazem recompra de armas, desmontando-as e as soldam em forma de ferramentas de jardinagem.
A ideia, explicou Viscoli, é "pegar uma ferramenta que é usada para matar pessoas, desmantelá-las e transformá-las em algo positivo". Ao mesmo tempo, o programa ajuda as comunidades a tirarem as armas indesejadas da rua.
"No Novo México, perdemos em média duas crianças por mês para a violência armada. Para um estado tão pequeno, nossos números estão fora dos padrões. Eles são praticamente metade em suicídio e metade em homicídio", disse ela.
Enquanto o museu espera que a exposição inspire as pessoas a pararem e considerarem a sombria estatística representada pelos sapatos de bebê pendurados, o debate altamente polarizado sobre as armas não oferece uma solução iminente. O grupo faz campanha pelas leis de reforma de (porte) de armas durante as sessões legislativas, mas é uma batalha difícil.
Viscoli disse que, toda vez que há uma tentativa de aprovar uma legislação sobre a prevenção da violência armada, "há pessoas que aparecem armadas e carregadas".
"As pessoas estão se tornando intimidadas demais para irem falar sobre a legislação de prevenção da violência armada. O Novo México tem a pior violência armada do país e temos algumas das leis de armas mais fracas e essa correlação não é coincidência", disse ela.
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