Estudiosos sugerem que a filosofia oriental oferece um melhor futuro para a humanidade

Beijing, 24 ago (Xinhua) -- O interesse internacional pela filosofia chinesa clássica está crescendo e os conceitos orientais de harmonia, comunidade e beleza são vistos como vitais na era da globalização.

Os estudiosos participantes no 24º Congresso Mundial de Filosofia sugeriram que a sabedoria oriental pode ser contrária às convicções antropocêntricas, segundo as quais o homem é a entidade mais significativa, o que em certa medida levou a consequências trágicas.

"Temos muito a aprender com a filosofia na China", disse Dermot Moran, presidente da Federação Internacional das Sociedades Filosóficas, em sua nota de saudação para o evento quinquenal, encerrado em Beijing esta semana.

Foi a primeira vez na história de 118 anos do congresso que o evento foi realizado na China. Mais de cem pesquisadores filosóficos palestraram sob o tema "Aprender a ser humano", com uma audiência de mais de 6 mil pessoas de todo o mundo.

"A China tem uma história impressionantemente longa de cultivo da sabedoria e deu uma contribuição duradoura para o patrimônio mundial", disse Moran, que expressou sua "forte esperança" de que o congresso possa inspirar os filósofos do Oriente e do Ocidente a "olhar para os problemas mundiais enriquecidos por novas perspectivas e abordagens."

O congresso "oferece sem dúvida o maior, o mais rico, o mais diverso e o mais inclusivo programa que reflete uma tentativa genuína para mover além dos modos estreitos ocidentais de se aproximar da filosofia em termos de suas categorias tradicionais e foi projetado cuidadosamente para incluir o reconhecimento do Oriente e Ocidente, Norte e Sul", disse Moran.

HARMONIA HOMEM-CÉU

Muitos dos filósofos assinalaram que a visão oriental de homem no cosmos como uma parte integral do universo pode guiar o mundo para um futuro melhor e contra crises ecológicas.

Os acadêmicos disseram que o pensamento oriental clássico do Confucionismo, Taoísmo e Budismo deve ser valorizado e aplicado aos nossos tempos cheios de conflitos.

Comparando os conceitos de Ren do Confucionismo chinês, e Ubuntu, literalmente "eu sou porque nós somos", na filosofia africana, o professor Mogobe Ramose da Universidade da África do Sul apontou a importância de promover as duas "filosofias de amor" em um tempo de polarização e distribuição injusta da riqueza.

"A fim de se tornar totalmente humano ou humanitário, praticar Ren ou Ubuntu, as pessoas devem estender seu amor aos outros, sejam eles humanos, não humanos ou inorgânicos", disse Graham Parkers, pesquisador da Universidade de Viena.

O antropocentrismo, derivado das tradições filosóficas ocidentais que considera os humanos como dominantes acima de tudo", podem ser nossa destruição, pois nós prejudicamos há longo tempo a integridade dos ecossistemas naturais em que nossa sobrevivência depende", advertiu.

Ele pediu o abandono da opinião antropocêntrica do ecossistema e abraçar as virtudes orientais de generosidade, clemência e altruísmo.

"Realmente nosso predicamento ambiental no momento - aquecimento global, poluição do ar, terra, água, desmatamento, dizimação de peixes e populações da vida selvagem - vem em certo modo de uma relação profundamente disfuncional com as coisas ao redor de nós", disse.

O professor Yang Guorong, da Universidade Pedagógica do Leste da China, também definiu a perda da inter-relação perfeita entre Céu (natureza) e homem como a causa dos desastres ecológicos, considerando que a beleza é compartilhada quando o homem e a natureza viverem em harmonia perfeita.

Peter Singer, um renomado filósofo australiano, assinalou que a ética moderna treinou os humanos a ficarem longe da crueldade contra animais enquanto a agricultura industrializada vem sendo detectada como uma principal fonte da emissão de poluentes. Ele disse que o público chinês deve ir mais profundo para refletir como definir a moralidade humana.

VIVER UMA BOA VIDA, ESTILO CHINÊS

"Diálogo entre o Ocidente e o Oriente pode render um entendimento ampliado sobre o que é viver uma boa vida, e assim fornecer um incentivo potente para conhecer o que é ser humano em um mundo estreitamente interconectado e globalizado", disse Paul Healy, pesquisador na Universidade de Tecnologia de Swinburne na Austrália.

"A ênfase oriental em 'unidade Céu-homem' pode fornecer um forte desafio para o individualismo que tipicamente caracteriza as concepções ocidentais de bem-estar e prosperidade humanos. A orientação cosmocêntrica da tradicional filosofia ocidental pode fornecer um contrapeso necessário para o antropocentrismo ocidental."

Zhang Shiying, de 97 anos, professor de filosofia da Universidade de Pequim, teve um ensaio apresentado que considera o universo como uma rede inteira onde todas as coisas são interconectadas e de onde a moral se originará.

"Viver moralmente é viver em uma unidade interconectada com todos os outros seres, e se livrar de buscas egocêntricas para encontrar a beleza", disse Zhang.