Tensões se intensificam entre Turquia e França sobre curdos sírios

2018-04-02 14:46:18丨portuguese.xinhuanet.com

Ancara, 1 abr (Xinhua) -- A tensão aumentou entre Ancara e Paris depois que o presidente francês, Emmanuel Macron, expressou seu apoio aos militantes curdos na Síria, atualmente alvo de uma operação militar turca.

O apoio da França às Forças Democráticas da Síria (SDF), lideradas pelas Unidades de Proteção do Povo (YPG), enfureceu Ancara no momento em que está lutando contra o YPG, um grupo considerado por Ancara como uma organização terrorista no norte da Síria.

A causa curda é uma política tradicional da França desde os anos 1980, quando os curdos iraquianos foram alvo de repressão do regime de Bagdá, liderado por Saddam Hussein, que seria deposto posteriormente e executado depois que as tropas dos EUA invadiram seu país em 2003.

O apoio de Macron caiu como uma bomba em Ancara, onde o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, atacou categoricamente a atitude do parceiro da OTAN. Ele alertou publicamente na sexta-feira que a França poderia se tornar um "alvo" por apoiar o YPG.

"A França adotou uma abordagem completamente errada", disse Erdogan, acrescentando que "esperamos que a França não nos procure por ajuda quando os terroristas da Síria e do Iraque atacarem seu país depois de serem incentivados por sua política".

O apoio do presidente francês aos curdos sírios coincidiu com o inesperado anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que os 2.000 soldados dos EUA atualmente posicionados no norte da Síria deixarão a Síria "muito em breve".

Preocupações foram levantadas sobre o possível confronto entre os exércitos turco e norte-americano, já que a operação turca em Afrin, na Síria, estava em andamento.

A raiva em relação à França, recentemente visitada pelo presidente turco e onde alguns contratos lucrativos foram assinados na compra de 25 aviões Airbus da Turkish Airlines, era palpável no governo turco.

Acredita-se que a França está assumindo, ou pelo menos se oferecendo para assumir o papel dos EUA na Síria.

"A França cruzou a linha vermelha lá (na Síria) ao anunciar seu apoio a um grupo que insistimos que operam atividades terroristas e que consideramos uma filiada do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK)", disse uma fonte próxima ao Governo turco.

O PKK é listado como um movimento terrorista pela União Europeia e pelos Estados Unidos, enquanto o YPG, que foi fundamental na luta liderada pelos EUA contra o Estado Islâmico (ISIS), não é considerado.

"Isso é inaceitável. Nem o governo nem o povo aceitarão essa postura que prejudica nossa cooperação com a França. Esperamos que esse erro seja consertado, caso contrário nossos laços sofrerão", acrescentou a fonte, que falou sob condição de anonimato.

Macron teve uma reunião na quinta-feira no Palácio do Eliseu com uma delegação da SDF constituída de membros da YPG, após a qual um alto funcionário curdo disse que o presidente prometeu enviar mais tropas para a área como parte dos esforços da coalizão, fornecer assistência humanitária e "mediar" entre os curdos e Ancara, provocando a dura reação de Ancara.

Falando a repórteres para esclarecer os comentários de Macron, uma fonte presidencial francesa disse que "a França não prevê qualquer nova operação militar no terreno no norte da Síria, fora da coalizão internacional".

No entanto, esse esclarecimento não foi bom o suficiente para Erdogan, que no sábado aproveitou a oportunidade de uma cerimônia pública em Istambul para atacar a França, dizendo que "se a França que é nossa aliada na OTAN quiser ficar com terroristas, ela sofrerá as consequências."

"A França está dizendo que nós invadimos Afrin, isso está longe de ser verdade. Libertamos os civis da opressão de gangues sangrentas (YPG)", acrescentou ele, culpando abertamente o gigante da indústria francesa Lafarge de ter construído "túneis e bunkers" para a milícia curda no norte da Síria.

Enquanto isso, em uma aparente reação e advertência a Paris, a agência de notícias estatal Anadolu publicou um mapa detalhando a localização das bases militares francesas no norte da Síria. Segundo a Agência Anadolu, cerca de 70 soldados franceses têm atualmente operações no nordeste da Síria como assessores.

A França tem sido a mais franca crítica da incursão turca no enclave de Afrin.

As relações turco-francesas têm sido problemáticas nos últimos anos. A França parece ser contra a entrada da Turquia na União Europeia, propondo uma parceria comercial. A França, ao lado dos EUA, também está preocupada com a crescente aproximação da Turquia com a Rússia na guerra da Síria e em importantes questões comerciais e energéticas.

Um furioso ministro da Defesa, Nurettin Canikli, também se juntou ao coro no sábado alertando a França contra o aumento de sua presença militar na Síria, afirmando que seria uma "invasão".

"Se eles pretendem apoiar elementos terroristas ou fornecer proteção direta ou indireta através de suas forças armadas, isso seria um passo verdadeiramente calamitoso", disse o ministro.

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