O Movimento 4 de Maio e o papel da juventude na construção da Nação chinesa

2017-05-01 09:53:34丨portuguese.xinhuanet.com

Por José Medeiros da Silva e Lu Chunhui

O Movimento 4 de Maio de 1919 é um marco importante na caminhada da nação chinesa para a construção de um país livre e soberano. Simboliza sobretudo um despertar responsável de um expressivo segmento da juventude em relação aos desafios históricos e aos destinos do país naquele momento. E é nesse sentido que sua atualidade permanece.

Em 1919 a China estava diante de um grande impasse histórico. Fazia menos de oito anos que a dinastia Qing (1640-1911) tinha sido derrotada. Mas a República, ainda criança, estava internamente dividida e não tinha forças para exercer de fato o controle sobre o país. Assim, as potências ocidentais ampliavam cada vez mais suas influências e domínio sobre o destino da China.

O estopim do Movimento foi acendido em Paris. A famosa Conferência de Versalhes (1919) que procurava reordenar o controle sobre o mundo depois da I Guerra Mundial, decretava uma decisão humilhante para os chineses: concedia ao Japão as possessões que os alemães detinham na China, na província de Shandong, terra natal de Confúcio e Mêncio. Aliás, esse tinha sido o “pagamento” que Grã-Bretanha, França e Itália tinham prometido aos nipônicos pela ajuda na luta contra a Alemanha na referida Guerra. O Japão, fortalecido militarmente, avançaria ainda mais seu domínio sobre o território chinês.

Esses acordos entre as potências despertaram entre muitos chineses uma reação inequívoca de que os mesmo não se curvariam diante de tais imposições. A reação foi imediata e naquele 4 de maio de 1919 cerca de 3000 estudantes deixaram suas aulas na Universidade de Beijing e foram para as imediações da Cidade Proibida protestar contra as imposições da Conferência de Versalhes. Essas manifestações logo se espalhariam, mobilizando pessoas em diferentes partes do país e de diferentes segmentos sociais.

Apesar de incipiente, florescia assim no coração de muitos chineses um sentimento concreto de Nação e uma consciência crescente sobre os principais desafios históricos enfrentados pelo país.

Em 1939, em Yan’an, na província de Shaanxi, então a sede do Comitê Central do Partido Comunista da China, ao comemorar o 20o aniversário do Movimento, o líder Mao Zedong indicava-o “um passo à frente em relação à Revolução de 1911”. Enfatizava, porém, a importância de se olhar para os desafios em curso, que tinha como desafio principal libertar o país da ocupação japonesa. Assim escreveu naquela ocasião: “Se passaram 20 anos desde o Movimento de Quatro de Maio e já se completam quase dois anos que começou a Guerra de Resistência contra o Japão. Sobre a juventude e sobre os círculos culturais do país recai uma pesada responsabilidade {...}. No dia em que a totalidade do povo se levantar de forma uníssona será o dia da vitória da Guerra de Resistência. Esforçai-vos, pois, juventude de todo o nosso país” (Mao Zedong, Obras escolhidas, vol. II).

Do ponto de vista político, o que aqueles jovens universitários reivindicavam, apoiados por muitos dos seus professores, era que a China fosse tratada de forma respeitosa e igualitária pelos países da época. Eles também lutavam para que a independência do país se concretizasse de forma efetiva e não apenas formal.

Na esfera artística e literária, o Movimento ganhou outras formas, influenciando profundamente a forma de pensar de muitos dos seus intelectuais, em diversas áreas. Ficou conhecido também como Movimento da Nova Cultura. Na linguagem, um dos resultados foi a substituição do chinês clássico pelo que chamavam de linguagem simples, mais próxima da língua usada cotidianamente pelo povo. Na literatura novos esquemas de composição foram introduzidos, como os utilizados por uma das principais expressões literária do Movimento, o escritor Lu Xun (1881-1936), escritor nascido em Shaoxing (Zhejiang) e mundialmente traduzido.

Evidentemente, que o Movimento de Quatro de Maio teve muitas limitações, frutos das contradições do próprio momento histórico em que surgiu. Porém, sua energia na defesa da China contra o domínio estrangeiro foi sempre inequívoca. Simboliza sobretudo um despertar de consciência entre uma significativa parcela de uma jovem intelectualidade desejosa de contribuir ativamente para a construção do seu próprio país.

A propósito, em 2014, por ocasião das comemorações do Dia da Juventude de Quatro de Maio, o presidente Xi Jinping em visita à Universidade de Beijing discorria assim sobre o Movimento: “{...} caracterizado pelo patriotismo, progresso, democracia e ciência, este movimento iniciou o prelúdio da nova democracia, promovendo a divulgação do marxismo no país e a fundação do Partido Comunista da China (Xi Jinping, A Governança da China, 2014).

Também em 2016, no dia 26 de abril, no processo de comemoração do Quatro de Maio, em uma palestra para intelectuais, trabalhadores modelo e representantes da juventude, o presidente chinês conclamava os jovens para que cultivassem no coração aspirações elevadas. Dizia ele: “ (Os jovens) devem ter como missão a prosperidade do país e a felicidade do povo, cultivar no coração aspirações elevadas e dedicar-se à grande causa da construção do socialismo com características chinesas, persistindo e nunca recuando, para poder explorar com dignidade a vida em sintonia com os desafios dos nossos tempos”.

Certamente, essas reflexões do presidente Xi Jinping, assim como seus conselhos aos jovens, objetivam chamar a atenção para as responsabilidades da juventude chinesa diante dos grandes desafios do país tanto na atualidade, quanto em um horizonte histórico um pouco maior.

Como se sabe, uma das grandes metas estabelecidas pelo presidente Xi Jinping é concretizar até 2049, por ocasião do primeiro centenário da fundação da República Popular, o grande sonho de revitalização da nação chinesa. Evidentemente, caberá aos jovens de agora a conclusão de tão grande obra. E é nessa perspectiva, o Movimento de 4 de Maio de 1919 é uma fonte constante de inspiração.

José Medeiros da Silva, Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo e Professor na Universidade de Estudos Internacionais de Zhejiang, em Hangzhou.

Lu Chunhui (Olívio), Mestre em Tradução Chinês-Português pela Universidade de Macau e Professor na Universidade de Estudos Internacionais de Zhejiang, em Hangzhou.

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