Estudo constata que o hipocampo do cérebro é associado a memória e a linguagem
São Francisco, 19 set (Xinhua) -- Um novo experimento realizado por psicólogos da Universidade da Califórnia, em Berkeley, mostra que a memória e a linguagem são profundamente ligadas através do hipocampo, que desempenha um papel fundamental nas associações da memória.
O hipocampo, situado no centro do cérebro, age como um roteador para conectar as memórias relacionadas - como por exemplo, a cor, forma, tato, aroma e sabor de uma laranja - de forma que podemos fazer associações. E seu papel em relação às palavras que são armazenadas em nosso conhecimento semântico é necessário para a compreensão da frase e a geração do significado, de acordo com os pesquisadores de um artigo publicado na segunda-feira, na edição online da revista Proceedings, da Academia Nacional de Ciências.
"A ligação entre a linguagem e o hipocampo poderia ser uma explicação para alguns dos défices de linguagem que vemos em pacientes que não têm danos às áreas de linguagem do cérebro," disse a pesquisadora sênior da Universidade de Radboud em Nijmegen, na Holanda, com pós-doutorado na Universidade da Califórnia em Berkley, Vitória Pai em comunicado de imprensa. "Eu acho que quando começarmos a estudar a linguagem como realmente acontece na vida real, vamos descobrir que o hipocampo está fazendo mais no serviço da linguagem do que se pensava antes."
Os pesquisadores gravaram a atividade neuronal por meio de eletrodos inseridos no hipocampo de 12 pessoas que ouviram frases com espaços em branco com respostas óbvias. Na maioria dos indivíduos, o hipocampo mostrou atividade altamente sincronizada como se detivesse a resposta certa ao ouvir as frases, mas antes da imagem da resposta ser exibida, um sinal de que a região estava fazendo associações em todo o cérebro para chegar a palavra certa: neste caso, vassoura.
O estudo foi realizado em pacientes com epilepsia, submetidos a estudos de eletrodos intracranianos em duas instituições médicas para localizar a fonte da sua atividade cerebral anormal. Piai gravou dados a partir do hemisfério não-epiléptico do cérebro. Em 10 dos 12 indivíduos apenas frases limitadas ou com resposta única óbvia causaram uma explosão de ondas theta sincronizados no hipocampo, que é uma característica ativa do hipocampo quando se faz associações de memória.
"Vitória mostrou que quando você grava diretamente da região do hipocampo humano, quanto mais limitada a frase se torna, mais ativo o hipocampo reage, basicamente prevendo o que vai acontecer," disse Robert Knight, professor de psicologia da Universidade da Califórnia em Berkeley e ex-chefe do Instituto de Neurociência Helen Wills. "O hipocampo começou a construir atividade theta rítmica que está ligado ao acesso à memória e ao processamento da memória."
"A língua é algo que tem sido classicamente visto como algo que ocorre e evolui no córtex, e é por isso que temos a habilidade de linguagem e os ratos não," observou ele. "Apesar do fato de que a área do hipocampo da parte medial do lobo temporal é bem conhecida por ser ligada a memória espacial e verbal em seres humanos, os dois campos têm sido como os navios que navegam pela névoa, sem saber que o outro navio está lá."
As novas descobertas podem abrir uma nova área de estudo, com gravações intracranianas para investigar detalhes da conexão entre a linguagem e a memória, Knight disse, acrescentando que "este estudo mostra que a memória contribui assim como uma frase evolui com o tempo; é uma parte em tempo real do nosso sistema de linguagem, e não um escravo do sistema de linguagem".










